sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mercado de São José: Patrimônio esquecido

Passeando pelo Recife, conhecida por sua multiculturalidade e pela rica história transposta em suas arquiteturas e monumentos, encontramos um legado que por décadas representa características da produção cultural, artesanal e econômica da cidade ,e que no entanto se encontra em caótica preservação.  
  O Mercado de São José é um dos vinte e quatro mercados da cidade, localizado no bairro de São José, e é o mais antigo edifício pré-fabricado em ferro no Brasil. Cheiros, cores e sons, complementam a paisagem que ganha ainda mais vida com o povo que a percorre. Como palco de ricas manifestações populares em centros urbanos, este mercado público do Recife é referência de uma estruturas histórica que perdura até hoje, entretanto sua conservação deixa a desejar.
    Depois de mais de cem anos de existência, um dos mais antigos mercados públicos da cidade do Recife enfrenta sérios problemas administrativos que comprometem diretamente a organização e o funcionamento desta grande representação histórica, econômica e cultural do Estado.
    A obra inspirada no mercado Grenelle de Paris já passou por várias reformas, e nestes 125 anos de existência foi tombado como patrimônio histórico do país. Tamanha riqueza em referência não pode ser comparada ao que encontramos hoje quando nos debruçamos sobre a minúcia na atenção aos espaços, higienização e organização do local. Banheiros depredados, estruturas frágeis e em péssimo estado de conservação e ainda o entorno completamente desorganizado por conta comércio informal na área externa, e sem espaço para estacionamento dos clientes.
Banheiro masculino, péssimas condiçõe
  Sobre as condições de conservação e a administração do lugar, o senhor Carlos Pessoa de 48 anos, que há 34 anos trabalha com roupas e artesanatos no mercado diz: “Todos os problemas do mercado de São José estão ligados a má administração. Tem problema de estacionamento, tem problema nos banheiros, tem problema de iluminação interna, segurança e os jardins do mercado não são cuidados.Tudo isto poderia ser mais organizado,e mesmo que não se providenciasse uma melhoria significativa de imediato,deveriam ser tomadas pequenas medidas de preservação e restauração deste lugar."
     A administração dos mercados é de responsabilidade da CSURB, Companhia de Serviços Públicos do Recife, empresa ligada a Secretaria de Serviços Públicos, que cuida da limpeza desse espaço. O Diretor de Mercados e Feiras da CSURB, Siderúrgio Costa, explicou que “a indisponibilidade dos serviços só não pode acontecer de maneira mais eficiente porque todos os projetos governamentais levam um tempo de trâmite no congresso, até que se libere de fato a verba para as medidas cabíveis nesta situação”.
    Maria da Conceição Tavares, 52 anos, presidente da associação dos locatários do mercado de São José e diretora do sindicato dos locatários dos mercados públicos do Recife, afirma que a maioria dos comerciantes e comerciários do local têm breve conhecimento. “Existe um projeto de retirada das barracas externas para imóveis próximos ao mercado,o que dizem que será a criação do mercado anexo de São José, para serem relocados estes boxes externos. O prefeito João da Costa confirmou que ainda em sua gestão essa transferência será feita, mas até o momento nada. Em relação ao estacionamento, quando o anexo for construído vai resolver os problemas de espaço, inclusive com área interna para ônibus de turismo. E quanto aos camelôs dos arredores do mercado, existe um projeto da criação de um espaço no cais de Santa Rita para a transferência da feira ao redor do mercado para um outro espaço”, diz.
     O Assessor Executivo da CSURB , Demetrius Fiorante , declara que existem programas do órgão que visam ações de modernização destes mercados, mas que de fato certos reparos não foram feitos. “Estamos aguardando a liberação da Receita Federal quanto aos gastos das últimas obras destes locais. Só depois que prestarmos conta do que foi feito até agora é que teremos o aval para dar continuidade aos serviços de reformas e gerenciamentos dos mercados públicos e municipais, além de pátios e feiras do Recife”, declara.
    Enquanto todos estes discursos ainda passeiam pelas in(ter)venções burocráticas de nossa política, esperamos dos órgãos competentes soluções no sentido de catalisar e possibilitar realmente às melhorias de nossos mercados. E que nossos patrimônios continuem fazendo jus aos títulos de herdeiros de um legado rico e plural, e que este seja um capítulo essencial para o progresso da nossa história.



Marta Guimarães para o Noticiando