domingo, 3 de outubro de 2010

MÚSICA AOS OUVIDOS, SAÚDE PARA O CORPO

     Quem disse que a música não ajuda na qualidade de vida das pessoas? Na verdade, a música está no ser humano independente dele querer ou não. Não se trata apenas do som, mas de vibrações que desencadeiam a atividade cerebral e interferem na digestão, na pressão arterial, na respiração e em tantos outros mecanismos que estão ligados à saúde das pessoas e ao bom funcionamento do corpo, tanto físico quanto emocional.
     Geralmente quando uma pessoa escuta a trilha sonora em um filme de suspense, seus sentimentos e emoções são estimulados a se preparar para o improvável, algo que não estava previamente programado, mexendo com suas emoções.
     É de se admirar que Beethoven, o grande gênio da música, compôs a 5ª. Sinfonia, uma de suas obras mais famosas, quando já estava surdo. Nem mesmo a impossibilidade de ouvir, conseguiu frustrar os talentos e habilidades desse grande compositor.
     É nesse sentido que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a melhora na qualidade de vida, utilizando a música como instrumento fundamental para superar seus limites, medos, inseguranças, frustrações e até mesmo algumas patologias.
     Foi pensando em melhorar a auto-estima e a interação com as pessoas que a estudante Priscilene Maria dos Santos, 17, decidiu submeter-se à musicoterapia. Priscilene vem a cada quinze dias da cidade de João Pessoa na Paraíba para as sessões que acontecem na Fundação Altino Ventura no centro do Recife. Ela afirma que muita coisa mudou na vida dela durante esse primeiro ano de tratamento e que a distância não é empecilho para ela, pois o importante é sentir-se bem.
Ernandes Júnior, Musicoterapeuta.
     Segundo o Musicoterapeuta Ernandes Júnior que trabalha na Fundação há quase três anos, os pacientes nem sempre chegam de forma adequada para essas terapias, por isso, sua função é trabalhar aspectos emocionais, cognitivos e motivar as pessoas na conquista do bem estar, para que o desenvolvimento delas seja favorável.
     Através das sessões de musicoterapia, são identificadas situações que estão no dia-a-dia das pessoas e que precisam ser solucionadas mas as famílias não têm acesso à essa solução. É realizado um acompanhamento junto à família, à escola, ou em qualquer outra instituição que essa pessoa tenha acesso. “Através desse acompanhamento nós identificamos dificuldades de aprendizagem, dificuldades de relacionamento, e isso gera uma melhoria no estilo de vida de cada paciente, porque ela poderá se desenvolver melhor na escola e em casa, passando a ser aceita pelos colegas e melhor compreendida pela família. Obviamente que os resultados são sempre positivos”, afirmou Ernandes.
     Diferente da educação musical, em que os objetivos são estritamente acadêmicos e preocupados com resultados estéticos, a musicoterapia não se importa com a estética, o que realmente importa é a manifestação de cada pessoa através do som e do ritmo. Sabe-se que todos nascem com a capacidade de se manifestar com o corpo através do ritmo que nos acompanha desde a gestação com os batimentos cardíacos, no andar, no correr, no caminhar. Então, são a partir desses elementos que os pacientes são auxiliados a melhorar a auto-estima, no desenvolvimento motor, na afetividade e na comunicação.
     Os resultados obtidos ao longo dos últimos meses têm agradado aos pais de pacientes que melhoraram bastante após o início do tratamento. É o caso da dona de casa, Severina Geuda, 37, mãe do Luiz Henrique, 5, que tinha problemas para desenvolver atividades em grupos e com os amigos na escola.
Vitória Régia
     Maria José Antônia da Silva, 67, também conta entusiasmada que sua filha adotiva Vitória Régia, 15, melhorou em relação aos problemas comunicacionais. “Ela era muito tímida, não falava quase nada, mas hoje ela está bem mais inibida e comunicativa. E também está indo muito bem na escola”, afirmou.
     Através da música consegue-se trabalhar aspectos lúdicos, envolvendo brincadeiras da infância que são necessárias para um bom desenvolvimento. Com o uso de onomatopéias e trava-língua com a finalidade corrigir aspectos fonológicos, como a dislalia que é caracterizada pela falta de fluência da fala e a ecolalia que é a repetição involuntária de palavras e frases.
     De acordo com o aspecto musical que for trabalhado, as pessoas podem ser auxiliadas nas questões cognitivas e de aprendizagem através da melodia, Já a harmonia interfere nas questões de afetividade e o ritmo atua mais diretamente na questão motora e respiratória.
     As sessões de musicoterapia acontecem semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente no Centro de Reabilitação Visual e Múltiplas Deficiências na Fundação Altino Ventura. Dependendo das necessidades específicas, as pessoas são atendidas em grupo ou individualmente e tem a duração de uma hora cada seção. Além disso, São feitas apresentações com teatros, bandas, corais, como manifestações públicas das atividades desenvolvidas com os pacientes.
     É inegável que o teclado, o violão, a bateria, o ganzá, o agogô, os pandeiros e tantos outros instrumentos musicais têm ajudado milhares de pessoas na reabilitação de doenças ou até mesmo na satisfação pessoal, em busca do bem estar na vida cotidiana.

Anderson Kleiton para o Noticiando