sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Deficientes merecem cuidados especiais nos mercados públicos

Albrto Souza, ex-cadeirante
    Em 1993 o comerciante Alberto de Souza Lopes foi ao Marcado de São José e não conseguiu entrar pela porta principal, foi até a lateral esquerda e também não teve sucesso. Da mesma forma, tentou ir pelo lado direito e por mais uma vez sua tentativa fracassou.
    Alberto foi vítima de um assalto na avenida Boa Viagem em 1993, levou dez tiros, submeteu-se a várias cirurgias nas articulações e passou oito meses trabalhando
em cima de uma cadeira de rodas. “Senti os transtornos porque naquela ocasião não havia uma rampa na entrada principal, mas depois que construíram, ficou mais fácil o acesso para mim”.
    Quem dera se todas as pessoas pudessem caminhar pelas ruas do Mercado de São José de maneira segura, autônoma e poder fazer uma viagem na história da cultura Pernambucana, através das inúmeras iguarias, dos artefatos e da arquitetura que remonta o século XIX. Mas não é o que acontece. Para que isso fosse possível, uma série de fatores deveriam ser considerados pelos órgãos competentes que cuidam do patrimônio histórico.
    Os deficientes, idosos, obesos e gestantes deveriam dispor de condições para relacionar-se com o meio e poder utilizá-lo sem nenhum problema. Tornar o espaço acessível é uma medida necessária, visando desobstruir o trajeto, sinalizar os espaços externos e internos, além de incorporar estacionamentos, rampas, calçadas, pisos, escadas e degraus, reduzindo as barreiras arquitetônicas que atrapalhem o livre acesso das pessoas.
Escada de acesso ao banheiro masculino
    Segundo o auxiliar administrativo do Mercado de São José, Reginaldo Oliveira, vários deficientes já prestaram reclamações à administração do Mercado por causa do desnivelamento do piso, da mobília e dos degraus que se tornam obstáculos na hora que os deficientes precisam caminhar pelo mercado. Reginaldo afirmou também que Instituto do patrimônio histórico nacional (Iphan) não permite fazer alterações na estrutura do mercado, porque é necessário preservar a arquitetura original do monumento tombado.
    Nas ruas do interior do mercado existe uma faixa de demarcação que é autorizada pelo Iphan e pela Companhia de Serviços Urbanos (CSURB) para que os comerciantes exponham as mercadorias, mas nem sempre essa faixa é respeitada, o que torna as ruas que já são estreitas ainda mais difíceis para transitar.

    Já no Mercado da Boa Vista, esse nível de dificuldade de acesso é bem menor, comparado ao Mercado de São José. Isso porque as entradas que dão acesso ao mercado estão no mesmo nível da rua, o que facilita a movimentação das pessoas. O único problema encontrado nas instalações do Mercado da Boa Vista é a falta de um banheiro específico para deficientes físicos. Segundo administrador do mercado, Ivan Severino, ele apresentará um projeto para construir um banheiro para os portadores de deficiência.
    Na opinião de Alberto, é necessário que seja viabilizado ao deficiente, um local para estacionar, descer com conforto e ter um melhor acesso ao mercado. Para ele, não adianta somente tornar acessível o interior do mercado se o deficiente não pode entrar com conforto e segurança.
    Hoje, 17 anos após aquele incidente que Alberto enfrentou, parece que as condições de acesso ainda continuam sendo um problema aos deficientes. A única rampa de acesso que permite os deficientes caminhar com segurança e autonomia é aquela que construíram quando ele usava cadeira de rodas. Por quanto tempo essa situação continuará da mesma maneira?

Andeson Kleiton para o Noticiando